segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O despreparo da mente para o pós redução de estômago...


"A vaidade quase me matou"
O playboy fala do drama que viveu após quase dois meses em coma depois de uma cirurgia de redução de estômago

Por Rodrigo Cardoso

Os cabelos estão grisalhos. A pele do rosto já não é lisa como antes. Seu caminhar é lento e a barriga, protuberante. Mas, aos 57 anos e 92 quilos, Francisco Scarpa Filho continua sendo o conde Chiquinho Scarpa, uma espécie de alter ego do playboy paulistano. Na conversa com ISTOÉ, exibia o brasão da família na roupa que vestia. Mas por pouco, muito pouco, Chiquinho não estaria ali para contar a história. Em abril, pesando 118 quilos, submeteu-se a uma cirurgia de redução do estômago no hospital Sírio-Libanês. De volta para casa - o órgão teve a capacidade reduzida de 1,5 litro para 500 mililitros -, Chiquinho ingeriu líquidos em quantidade acima da recomendada. O intestino não suportou e houve um rompimento abaixo dos pontos. Em uma nova internação, três dias depois, foi diagnosticado que o líquido abdominal havia se espalhado e provocado uma infecção que paralisou o funcionamento do fígado, pulmão, pâncreas e rins. Pior: um fungo raro, encontrado em sucos de caixa, contribuiu para a contaminação. Sucederam-se, então, mais cinco cirurgias para a limpeza do local, dois meses em coma induzido na UTI, a visita de dois padres que lhe deram a unção dos enfermos até a retomada da consciência e a alta hospitalar. Em casa, Chiquinho faz fisioterapia para fortalecer os músculos durante a semana. E segue uma dieta para atingir seu objetivo (80 quilos) e saciar a vaidade que quase o matou.

ISTOÉ - Faz três meses que o sr. convive com as complicações de uma cirurgia de redução do estômago. Foram quase dois meses de coma induzido. Pensou na possibilidade de morrer? Chiquinho Scarpa - Não. Tive, depois de retornar do coma, uma agitação violenta dentro de mim. Era uma espécie de síndrome do pânico que surgiu porque eu raciocinava, mas não conseguia mexer nenhum membro e não falava. Chamaram um psiquiatra que percebeu os meus olhos amedrontados, a agitação. Eu achava que não iria voltar a andar.
ISTOÉ - Esse medo era maior que o da morte?
Chiquinho - Sim. Além de não andar, não voltar a falar. Quando acordei do coma, não me lembrava onde estava e só conseguia mexer os olhos. Colocava colírio no olho porque queimava muito. E só falava quando a fonoaudióloga colocava uma válvula no pescoço, mas me cansava tanto que passava o dia pensando quais seriam as dez palavras que iria falar. Até que, para me comunicar, pedi uma planilha com o abecedário.
ISTOÉ - Arrepende-se da cirurgia de redução de estômago?
Chiquinho - Até agora não. Faz um mês que estou bem, não enjoei, não sinto dor. Não me arrependo desde que, daqui a dois, três meses, eu tenha alcançado o meu o objetivo: 80 quilos. Estou com 92. Bebi muita água depois que retornei para casa após a operação. Aí, a alça intestinal estourou e, da gordura que existia no meu intestino, surgiu uma infecção. Retornei para o hospital, onde passei por lavagens no estômago e tomei antibióticos fortes. Ganhei barriga por causa da infecção, de soro e de remédios que incham.
ISTOÉ - Qual era a sua chance de sobrevivência?
Chiquinho - Um médico disse para minha família que ela deveria ter aconpaciência e rezar. Ou seja, zero! Por causa da infecção, eu apresentava sinais de falência no fígado, nos rins e no pâncreas (e no pulmão).
ISTOÉ - Acredita em milagre? Fez algum tipo de promessa?
Chiquinho - Não. Mas olha a promessa que minha mãe, com 83 anos, fez em meu nome: se sobrevivesse, nunca mais falaria um palavrão na vida! Na frente dos meus pais, não falo mais.
ISTOÉ - Teve responsabilidade para que chegasse à beira da morte?
Chiquinho - Beber líquido além do estipulado (o correto seria o equivalente a uma xícara de café a cada meia hora), em casa, após a cirurgia. Bebia água, suco de pêssego em caixinha sem parar. Aí, me sentia estufado e induzia o vômito. A operação não suportou essa pressão.
ISTOÉ - Por que bebeu tanto líquido?
Chiquinho - Não sei. Não me lembro de beber. Me contaram depois. Por isso não me sinto culpado. Mas com essa montanha de médicos que tenho (12 profissionais) nunca poderia ter acontecido comigo o que aconteceu.
ISTOÉ - O que quer dizer com isso?
Chiquinho - Eu acho que os culpados foram eles (médicos) - não sei quem - que me liberaram para voltar para casa logo após a primeira cirurgia. Talvez eu devesse ter ficado mais tempo em recuperação no hospital. Muita gente que faz a mesma cirurgia fica uma semana. Mas eu fiquei um dia apenas.
ISTOÉ - Um de seus médicos disse que seu corpo sofria de desidratação por conta de um remédio para acne. Por tomá-lo além do tempo de tratamento sua pele e os seus tecidos ressecaram. Por isso, a vontade de se hidratar. O que tem a dizer?
Chiquinho - Existe um remédio chamado Roacutan (cujo princípio ativo é um ácido) que livra o rosto de espinhas, você fica bárbaro. Tomava três vezes por semana há dois ou três anos. Esse remédio foi desmanchando os tecidos do meu corpo. Se uma mulher estiver se tratando com ele, não deve engravidar porque o bebê pode nascer com deformidades físicas. É por causa desse remédio que eu sentia sede.
ISTOÉ - Esse remédio é vendido sob prescrição médica, mas o sr. o tomava mesmo fora de tratamento. Como?
Chiquinho - Ah, eu conseguia os atestados com uns médicos por aí. Agora, eu não tomo mais Roacutan. Mas minha pele está péssima.
ISTOÉ - A vaidade quase o matou?
Chiquinho - Foi a vaidade, quase me matou, sou vaidoso. E sou instrutor de aikidô. Como poderia dizer para um cara treinar, se estou gordo? Como exemplo, eu era uma catástrofe. Tinha de fazer a cirurgia porque não conseguiria emagrecer 40 quilos. Se tivesse dado certo, estaria fazendo aikidô.
STOÉ - Sente que envelheceu mais do que o normal durante a recuperação?
Chiquinho - Não. Fui para a operação com 118 quilos. Mas me incomodo com a barriga. Dizem que a cicatriz não some. (Ele mostra a cicatriz, que vai do peito até abaixo do umbigo).
ISTOÉ - Como chegou aos 118 quilos?
Chiquinho - Foi desleixo. Já havia acontecido antes, mas recuperei a forma, eram apenas 20 quilos. Dessa vez, como fazia muito exercício, comia bastante. Em um ano, ganhei 40 quilos. Minha cintura saltou de 73 cm para 110 cm. Não havia roupas que entrassem em mim. Mas não aumentei a numeração. Preferi não sair de casa. Quando meu sobrinho Andrey morreu (no ano passado, em acidente de trânsito, aos 24 anos), tive de alugar um terno.
ISTOÉ - Parava na frente do espelho?
Chiquinho - Era um horror me olhar no espelho. Evitava fazer isso. Mas a pior coisa é urinar e não ver o pipi.
ISTOÉ - Como mantém a vaidade?
Chiquinho - Uso cremes e a manicure voltou a vir em casa toda semana para cortar meu cabelo, fazer o pé e a mão, tirar pêlo da orelha e do nariz. Também depilo o peito porque no aikidô a pessoa é pega por essa região.
Fotos: Rodrigo Cardoso/Ag. ISTO É; Divulgação
ISTOÉ - Fisicamente falando, o que ainda não está em ordem?
Chiquinho - As pernas. Meus músculos ficaram atrofiados de tanto que fiquei deitado. Em casa, fiquei de cadeira de rodas por 20 dias. Cai duas vezes dela, agora estou andando melhor. Outro dia, coloquei um sapato e subi a escada pela primeira vez. Mas sinto falta do meu livre trânsito. Preciso de ajuda para deitar na cama. Faço fisioterapia por uma hora e meia de segunda a sexta. Mas, por ordens médicas, os exercícios não podem mexer na barriga. E isso está me incomodando.
ISTOÉ - Qual foi a recomendação para a prática de sexo?
Chiquinho - Não falei disso com os médicos. Tudo que pergunto eles dizem: "Só daqui a seis meses." Estou de saco cheio de perguntar as coisas. Mas não pratico sexo desde então. Estou de quarentena. Até porque não tenho muita sensibilidade (no pênis), por exemplo, quando urino. Às vezes urino nas calças. As pontas dos dedos também estão adormecidas. Na sexta-feira (dia 17), saí pela primeira vez, após um mês de recuperação em casa. Fui ao aniversário da minha irmã em um restaurante!
ISTOÉ - Seguiu a orientação médica?
Chiquinho - Comi carneiro sem azeite e sem gordura nenhuma, cuscuz marroquino e tomei champanhe.
ISTOÉ - E podia?
Chiquinho - Estou autorizado a ingerir 500 miligramas a cada hora e meia. É uma barbaridade, dá para comer uma feijoada! Eu sei o meu limite.
ISTOÉ - Quantas taças de champanhe o sr. tomou?
Chiquinho - A médica liberou duas taças, mas tomei umas dez.
ISTOÉ - É verdade que dois padres o visitaram na UTI para lhe dar a unção dos enfermos? Chiquinho - Sim. Minha irmã pediu para que eles fossem lá. Talvez eu tivesse muito pecado. O primeiro eu não me lembro, estava em coma. O segundo, eu estava meio grogue (sua esposa, Rosimari Bosenbecker, conta que o marido chorava copiosamente). Achavam que eu fosse morrer.
ISTOÉ - Tornou-se uma pessoa diferente depois disso?
Chiquinho - Para a infelicidade de todos, não! Fiquei com raiva por ter perdido esse tempo na minha vida. Mas, por sorte, ganhei muito dinheiro em um negócio enquanto estava em coma (ele não revela qual, nem o valor). Acordei e era só felicidade. (Nesse momento sua mulher interrompe e diz: 'Quer dizer, a vida não tem tanta importância. O que importa é o maldito dinheiro e a vaidade. Legal, né?') Essa é minha mulher! Mas deixa eu contar a minha saída do hospital porque foi bárbara.
ISTOÉ - Conte.
Chiquinho - Eu dei alta para mim! O Raul Cutait (cirurgião gastroenterologista), que é o chefe dos médicos, me disse: "Pode ser que dê alta para você hoje, como pode ser amanhã ou depois de amanhã." Nunca vi um médico falar isso! Ok. Aí, veio o Sami Arap (urologista). Eu disse: "Sami, assina minha alta, porque o Cutait já assinou". Com o David Uip (infectologista), fiz o mesmo. Quando o Cutait retornou para me ver, a alta estava assinada pelo David e o Sami. Aí, eu falei: "Raul, só falta você me dar alta". Conclusão, o Raul me levou da UTI até o carro, disse tchau e falou que passaria na minha casa para me ver. E aqui estou eu.

Um comentário:

  1. EU VOU FAZER REDUÇAO DE ESTOMAGO DE GRAMOS OQUE VCS ACVHA DISSO MAS TENHO MEDO AINDA ME REPONDA POR FAVOR

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